quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Quando era moleca, um dos meus sonhos de consumo era sair mais vezes do bairro onde morava para passear. Adorava as tardes em que minha mãe ia visitar minhas tias, e minhas irmãs, meu irmão e eu podíamos brincar com nossos primos que não moravam no mesmo quintal que a gente.

Sonho de consumo contido: ganhar o perfume da rifa da moça da farmácia da esquina.

Algum tempo depois, me apaixonei por cadernos universitários. Ainda usava o brochura pequeno, que me dava um trabalho algoz, na hora de desenhar flores nas suas margens.

Sonho de consumo urgente: 1 lápis + 1 borracha + 1 caneta azul + 1 caneta preta + 1 caneta vermelha.

As flores à margem do caderno universitário enfeitavam minha lição de classe e de casa, de um jeito mais adulto. Crescer logo deixou de ser meu sonho de consumo, apenas desejo realizado, já que mal vi o tempo passar, e aqui estou: beirando os quarenta.

Sonho de consumo delirante: um café na padaria com o John Lennon.

Durante muito tempo, meu sonho de consumo foi arrumar um trabalho e ganhar o suficiente para comprar uma casa com um lago no quintal. Andava com essa ideia fixa de que se estivesse num lugar assim, fresquinho, com vista de tirar o fôlego, escreveria muito melhor. Porém, não tardou para eu me dar conta de que escrevo melhor (o meu melhor, com toda modéstia que nele cabe) de cara com o caos, envolvida com a enlouquecida rotina de quem precisa sobreviver aos destemperos do que a vida lhe reserva.

Sonho de consumo atemporal: paz, amor e tudo o que for necessário para que estes não sejam apenas temas de discursos vazios.

Foram raros os sonhos de consumo que incluíam lojas de roupas e de sapatos. Bastava chegar com o sonho capenga ao shopping, que meu olhar desviava para a livraria e para as lojas de discos. Durante sei lá quanto tempo, meu sonho de consumo foi saber consumir em livrarias e lojas de discos sem estourar o cartão de crédito. E esse tem sido o meu sonho de consumo há décadas, assim como é um fragmento da felicidade financeira da Mastercard.

Sonho de consumo de consumidora que consome de atravessado: pagar os cartões de crédito para ter mais crédito para comprar livros, discos e filmes.

Os meus sonhos de consumo variam, de acordo com o humor, com a situação que estou vivendo, com a falta ou excesso de paciência. É um consumo de desejos diversos, que sempre beneficiam mais o espírito. Houve até dias em que meu sonho de consumo era sobre dormir como sou e acordar mais branda, o coração pleno. E de não perder aquele show que, uma pena, perdi... Mas estou me preparando para o de 2012.

Sonho de consumo de uma consumista de primeira quando se trata de sonhar sonhos de consumo: ser feliz.


Nenhum comentário:

Postar um comentário